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Sesc Bom Retiro recebe a exposição inédita ‘Fernando Lemos – mais a mais ou menos’

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Exposição inédita reúne mais de 80 obras como fotografias, desenhos, aquarelas, nanquins, postais e pinturas

“nos meus pensamentos sempre
as palavras lutam duas a duas pela verdade

palavras se metem dentro
de outras palavras querendo ideias

sou uma caixa de vários lados
com vários cantos
com duas sombras

uma escura que nasce da clara
outra clara que nasce da escura

a luz cintila e a sombra dorme
a sombra estatela-se e a luz ergue-se

nasce cada palavra dentro de outra palavra”

Fernando Lemos

Reunindo 86 obras de Fernando Lemos como desenhos, fotografias, cartões postais e pinturas realizadas desde a década de 1940 até os dias atuais, a mostra Fernando Lemos – mais a mais ou menos, chega ao Sesc Bom Retiro, de 2 de outubro de 2019 a 26 de janeiro de 2020, com entrada gratuita. A curadoria é de Rosely Nakagawa.

Fernando Lemos nascido em Lisboa em maio de 1926, mais conhecido como fotógrafo, construiu uma trajetória artística exuberante, estruturada na libertação, subversão, provocação e contestação das regras .

Na adolescência, foi a trabalhar em uma litografia; depois como desenhista e depois em agências de publicidade. Em 1949 comprou uma máquina fotográfica Flexaret e começou a fotografar. Sua primeira exposição surrealista, ampliou a visão de arte portuguesa em pleno período de repressão do governo de Salazar na década de 1940.

Ainda na década de 1950 Lemos decidiu vir ao Brasil e se aproximou de figuras como Paulo Emílio de Sales Gomes, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Sergio Milliet e Lourival Gomes Machado. Expôs suas fotografias no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, com texto de abertura de Manuel Bandeira.

A primeira exposição no Rio de Janeiro, provocou sua mudança definitiva para o Brasil, pouco antes do golpe militar de 1964.

Acabou por fixar-se em São Paulo, se tornando reconhecido pelo trabalho ousado e inovador, e recebendo prêmios em Bienais Internacionais de São Paulo, pelas pinturas e desenhos realizados nas décadas de 1950 e 1960.

Sempre explorando processos gráficos e fotográficos, ancorado no fazer artístico, construiu uma linguagem própria, recorrendo à inversão, à fragmentação, à solarização e a sobreposições. Sua obra é marcada pela imagem construída, visando um efeito de revelação, ocultação, incisão, encenação, invenção.

Essa aproximação das dimensões invisíveis através dos sonhos, também marca trabalhos recentes como a série Ex-fotos, onde o artista faz intervenções raspando e pintando sobre fotografias descartadas por familiares e amigos, enfatizando o papel da fotografia na criação de acasos e a ocultação reveladora que pode existir nestas “fotografias rejeitadas”.

A obra assinalada pela participação das mãos como ferramenta de construção de um diálogo entre o trabalho e o sonho.

“Tudo nele se liga, o físico e o econômico, o social e o político, a cultura que enfraqueceu os seus suportes tradicionais. A diversidade das opções, da obra, dos caminhos a seguir assenta na liberdade de pensar e de agir que orientou a sua personalidade, a sua vida e a sua influência”, conta Tereza Siza.

Jorge Molder diz no catálogo de 1994 da Fundação Calouste Gulbenkian, “uma obra com tal robustez e complexidade obriga sempre a um exercício periódico de revisitação que a redescobre e reinventa”. É este exercício que gostaríamos de propor a respeito deste artista imenso e intenso que está sempre a nos surpreender com a sua caixa de vários lados a iluminar as nossas sombras e transparências.

Explorando a trajetória que construiu sua atuação no campo do desenho, estão presentes nesta exposição alguns de seus primeiros trabalhos, realizados com modelos em Lisboa, quando cursava a Escola de Belas Artes. Estão expostos também desenhos sobre papel em pequeno formato, usando técnicas diversas em camadas sobrepostas. Desenhos e aquarelas também são usados nos cartões postais com legendas poéticas e provocativas.

Uma de suas séries de desenhos é fruto de um compromisso de criar um novo trabalho todos os dias. Trata-se de um conjunto livre e gráfico, que demonstra a continuidade de um método de trabalho que vem desde os anos 1950, quando participava ativamente do movimento surrealista.

Na década de 1960 o artista fez uma viagem ao Japão, num projeto de pesquisa sobre caligrafia japonesa, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Os trabalhos em nanquim produzidos logo após esta viagem contrastam com as cores das pinturas mais recentes, em tinta acrílica, que olham a partir da intensidade da vida brasileira. Tendo produzido com imensa energia criativa durante as décadas seguintes, ganha evidência a força da produção de Fernando Lemos nos diversos campos artísticos em que atua.

Esta mostra reúne:

Fotografias em preto e branco
Fotografias em cor com interferências de pintura
Desenhos a carvão, nanquim e lápis
Desenhos em técnica mista sobre papel
Aquarelas sobre papel
Pinturas em tinta acrílica sobre papel e cartão

Informações sobre o artista:

Fernando Lemos (José Fernandes de Lemos) é reconhecido artista gráfico, fotógrafo, desenhista, pintor, tecelão, gravador, muralista e poeta.

Em 1953 chega ao Rio de Janeiro para uma exposição no Museu de Arte Moderna, apresentado por Manuel Bandeira. Entretanto, fixa residência em São Paulo, onde a arte muralista inaugura sua trajetória na cidade, durante as comemorações dos quatrocentos anos de São Paulo, quando ele foi chamado para integrar a equipe que preparava as festividades. Foi convidado junto à artistas como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Portinari, Clovis Graciano e Manuel Lapa, para realizar grandes murais no vasto pavilhão do Parque do Ibirapuera, inaugurado naquele ano. O parque era então o primeiro complexo cultural da cidade desenhado por Oscar Niemeyer com paisagismo de Burle Marx, criado para abrigar museus, pavilhões (onde hoje é realizada a Bienal), num momento cultural único e efervescente do Brasil.

Fernando Lemos participa das II, III, IV, XV Bienais de São Paulo, sendo premiado em 1957 e 1965 como o melhor desenhista brasileiro. Expõe ainda na IV Bienal de Tóquio em 1957 e na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, no ano de 1961 em Portugal.

No contexto de sua viagem ao Japão, na década de 1960, foi autor do projeto de criação do Museu Nanban em Nagasaki, de vitrais para uma capela do projeto de Manoel Kosciusko Correa em Hakone e realizou a comunicação visual do Pavilhão do Brasil da IV International World Trade Fair de Tóquio.

Fundou, na segunda metade de 1960, o estúdio de criação Maitiry, que reuniu profissionais de várias áreas da comunicação, artes gráficas e publicações de livros infantis.

Atuou também como professor de artes gráficas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP. Entre 1968 e 1970, ocupou a presidência da Associação Brasileira de Desenho Industrial – ABDI, da qual é membro fundador. Atua também, em 1975, como gestor no IDART (Departamento de Informação e Documentação Artísticas) e no CCSP (Centro Cultural São Paulo) da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo, órgãos públicos dedicados ao desenvolvimento e fomento das artes visuais.

Cronologia

1926 – Nasce em Lisboa.

1950 – Participa da Primeira Exposição Geral de Artes Plásticas – Cartazes, na Sociedade Nacional de Belas Artes.

1952 – Com Marcelino Vespeira e Fernando Azevedo realiza uma exposição de pintura, desenho e fotografia na Casa Jalco, no bairro do Chiado, em Lisboa.

1953 – Publica Teclado Universal nos “Cadernos de Poesia”. Fixa residência no Brasil. Expõe suas fotografias nos museus de arte moderna de São Paulo e Rio de Janeiro. Após a exposição no Rio de Janeiro, que conta com a apresentação do escritor Manuel Bandeira, Lemos muda-se para São Paulo.

1954 – Representa Portugal na II Bienal de Arte de São Paulo, e recebe o Prêmio de Aquisição “Câmara Portuguesa do Comércio de São Paulo”. Faz a montagem da exposição de História de São Paulo no IV Centenário com Manuel Lapa e curadoria do Prof. Jaime Cortesão.

1957 – Na IV Bienal recebe o prêmio “Melhor Desenhista Nacional”. Representa o Brasil com desenhos na IV Bienal de Tóquio.

1959 – Recebe o Prêmio de Aquisição “João A. Dória”, na V Bienal de São Paulo.

1963 – Publica o livro Teclado Universal e Outros Poemas. Recebe os prêmios “Melhor Capa de Livro” e “Melhor Apresentação Gráfica” na II Bienal Internacional de Arte Gráfica, de São Paulo, com o livro para crianças Televisão da Bicharada, de Sidônio Muralha. Funda a Editora Giroflé com um grupo de intelectuais brasileiros.

1965 – Na oitava edição da Bienal de São Paulo, participa com uma sala especial. Realiza uma retrospectiva (1953/1965) no Grêmio do Alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

1969 – Com Jorge Bodansky, faz sua única experiência em cinema como diretor de fotografia do longa-metragem Compasso de Espera (1969-1973), dirigido por Antunes Filho.

1977 – Participa da exposição coletiva A Fotografia na Arte Moderna Portuguesa, realizada no Centro de Arte Contemporânea, no Porto.

1985 – Publica Cá & Lá, livro que inclui os poemas de Teclado Universal e outros inéditos.

1991 – Publica os livros Desenhumor e O Quadrado Visualterado.

1994 – A Fundação Calouste Gulbenkian promove uma grande retrospectiva de suas fotografias: À Sombra da Luz, no Centro de Arte Moderna, em Lisboa. A exposição também se realiza na França, em Aix-en-Provence (1996) e Toulouse (1998).

2011 – Realiza a exposição Lá & Cá, retrospectiva Fernando Lemos na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

2018 – Participa da exposição coletiva de design TANTO MAR, a convite da curadora Adélia Borges e de Barbara Coutinho, diretora do MUDE (Museu de Design de Lisboa).

2019 – Realiza exposição individual no MUDE de toda sua obra de design, com curadoria de Chico Homem de Mello, sob a direção de Barbara Coutinho.

2019 – Na galeria Ratton, também em Lisboa e com a curadoria de Ana Viegas, mostra trabalhos projetados para painéis em azulejo, em estudos diversos.

2019 – na Galeria 111, em Portugal, realiza a exposição Mais a Mais ou Menos, núcleo inicial da mostra homônima a ser realizada no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, com inauguração no mês de outubro.

Prêmios Recentes

Prêmio Anual de Fotografia do Centro Português de Fotografia, no Porto (2001).

Prêmio de 2016 da Crítica em Artes Visuais da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, ordem honorária que destaca personalidades que contribuíram para a expansão da cultura, história e valores de Portugal, em, 2018

Suas obras foram expostas e premiadas em diversas cidades do mundo, como Moscou, Barcelona, Frankfurt, Hamburgo, Toulouse, Aix-en-Provence e Paris.

Seus trabalhos estão presentes nas coleções da Fundação Centro Cultural de Belém, Fundação Berardo, Fundação Cupertino Miranda, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado e Fundação Calouste Gulbenkian.

Rosely Nakagawa

Curadora independente, graduada em Arquitetura pela FAUUSP Faculdade de Arquitetura em 1977, com especialização em Museologia em 1979, pela Universidade de São Paulo.

Criou a primeira galeria de Fotografia em São Paulo, a Galeria FOTOPTICA, com Thomaz Farkas em 1979. Coordenou a Casa da Fotografia FUJI desde 1996, com Stefania Bril, foi curadora das galerias Fnac de 2004 a 2010.

Como curadora independente, realiza mostras e edições de livros Fotografia de fotógrafos brasileiros e estrangeiros, entre eles: Anna Mariani, Carlos Moreira, Eduardo Viveiros de Castro, Keiichi Tahara, Luc Chessex, Luis Braga, Luiz Gonzalez Palma, Mario Cravo Neto, Martin Chambi, Maureen Bisilliat, Pedro Lobo, Sebastião Salgado, Thomaz Farkas, Tiago Santana, entre outros nomes da fotografia contemporânea.

Como comissária e curadora, realizou mostras de artistas plásticos como Fabrizio Plessi, Fernando Lemos, Feres Khoury, Luise Weiss, Rubens Matuck, de acervos de museus como Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Biblioteca Guita e José Mindlin, Instituto de Estudos Brasileiros, Instituto Socioambiental, entre outros.

Instituto Moreira Sales – IMS

Mais de duas mil obras do artista luso-brasileiro, entre fotografias, gravuras, desenhos e peças de design, passam a fazer parte do acervo do Instituto Moreira Salles. Nos próximos meses, as obras serão tratadas e digitalizadas, o que possibilitará a realização de um inventário detalhado das séries das diferentes fases do artista.

Fernando Lemos – mais a mais ou menos

Abertura: 2 de outubro de 2019, às 19h.

Visitação: 3 de outubro de 2019 a 26 de janeiro de 2020

Horários: Terça a sexta, das 9h às 21h. Sábados, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 18h

Classificação: Livre.

Grátis.

AGENDAMENTO DE GRUPOS

agendamento@bomretiro.sescsp.org.br

SESC BOM RETIRO

Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro – São Paulo

Horário de funcionamento: Terça à sexta-feira, das 9h às 21h. Sábado, das 10h às 21h. Domingo e feriado, das 10h às 18h.

Telefone: (11) 3332-3600

Estacionamento:

Entrada: Alameda Cleveland, 529.

Valores: Com apresentação de Credencial Plena: R$ 5,50 até uma hora; R$ 2,00 (a hora adicional). Não credenciados: R$ 12,00 até uma hora; R$ 3,00 a hora adicional.

Site: sescsp.org.br/bomretiro

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