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BIENAL DO LIVRO 2019 | A era das transformações: de Monteiro Lobato à escola brasileira

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Nada escapa ao poder inexorável do tempo. Um dos temas debatidos na Bienal Internacional do Livro de 2019, no Rio de Janeiro, foi o viés racista na obra do autor do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Na mesa Relendo Monteiro Lobato,os autores Pedro Bandeira e Marisa Lajoto levaram para o Café Literário as questões que fizeram com que o escritor de uma das mais consagradas obras da literatura infantil passasse a ser relido à luz das concepções ideológicas contemporâneas. Ambos abordaram, ainda, as principais características da produção literária lobatiana: curiosidades da vida do escritor e a importância que ele teve para a formação de novos leitores no Brasil. No bate-papo, os autores – Bandeira assumiu o desafio de atualizar a obra de Lobato para o século XXI e Marisa é autora de uma biografia em primeira pessoa, a partir das cartas que ele escreveu –,afirmaram que embora adepto de pensamentos racistas, esse traço não estava presente nas publicações do escritor; não era um aspecto unívoco da obra dele.

Alinhado às demandas atuais, parte da missão de Pedro Bandeira consistiu em eliminar as expressões racistas, atualizando os textos para jovens e crianças contemporâneas. Os xingamentos que Emília proferia contra Tia Anastácia não têm mais espaço nas novas edições da Editora Moderna, tampouco na sociedade brasileira. Mas, a linguagem, a genialidade e o humor de Lobato serão preservados. A movimentação editorial ocorre no momento em que a obra passou ao domínio público, ou seja, os direitos autorais não pertencem mais exclusivamente aos descendentes, 70 anos após a morte do escritor.

Monteiro Lobato e Hegé (Georges Prosper Remi) nasceram, respectivamente, em 1882 e 1907. São resultado de uma escola e de um modelo de educação pertencente a um mundo muito diferente. E é esse ponto que quero abordar. Da mesma forma como muitas pessoas (educadores, pais e autores) resistem à revisão de obras literárias – feita com respeito e profissionalismo, ressalto –, se opõem à atualização da forma como educamos nossas crianças e da própria escola, que também tem sofrido o peso do tempo. Se nós, pais, já não somos os mesmos… imagine os nossos filhos!

Como especialista em educação e empreendedor da Geekie, tenho rodado o mundo, palestrando sobre o tema com um olhar muito voltado para a escola brasileira e as referências educacionais no exterior. Na edição de 2018 do Fórum Econômico Mundial para América Latina, cujo tema transversal foi a Quarta Revolução Industrial – um momento no qual o mundo está interconectado, mas a organização geopolítica e os problemas globais não correspondem à forma como estamos organizados – a minha colaboração foi levar o olhar da tecnologia e da inovação, dentro de um contexto educacional real e prático. Quando se pensa que a escola atua com o desafio de preparar o aluno para as competências do século XXI – mas, que ainda perpetua um modelo de trabalho baseado nas habilidades necessárias na época da revolução industrial – percebe-se que a proposta educacional adotada por grande parte das escolas está distante de um modelo de trabalho e de vida em sociedade com pensamento crítico, autonomia e visão de futuro.

No cerne do desafio de preparar os jovens para o mercado de trabalho do futuro está a necessidade de questionar um sistema educacional no qual as habilidades que ele se propõe a desenvolver – basicamente, memorização e preparação para um exame vestibular – não têm nada a ver com as habilidades e competências que o mercado de trabalho exige (criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe e comunicação). Ou seja, o oposto do que o modelo tradicional executa ao manter o aluno sentado em uma carteira, em postura passiva, copiando textos e estudando sozinho para a prova.

Essa falta de sintonia entre a escola e educar para o futuro está custando caro; nossos filhos estão abandonando a sala de aula. No Brasil, de acordo com a PNAD, 50% dos jovens brasileiros não conseguem concluir o Ensino Médio até os 19 anos. A necessidade de trabalhar, que pode vir à mente como principal fator da evasão escolar, não é o primeiro motivo: 40% dos jovens que abandonaram os estudos apontam o desinteresse – de acordo com a pesquisa da Fundação Getulio Vargas.

O problema do acesso universal à uma educação de qualidade não é só social, mas também é uma questão de competitividade! Se o país não garantir que todas as pessoas que passam pelo sistema educacional tenham capacidade de desenvolver plenamente o próprio potencial, corremos o risco de deixar vários “Stephen Hawking” pelo caminho. Se o Brasil quiser ser um país competitivo, precisamos que todas as crianças tenham uma educação de qualidade. Temos que mudar, no mínimo, o Ensino Médio para aproximar essas duas pontas; para que o dia a dia desse aluno na escola seja conectado com o que ele vai ser demandado no mercado de trabalho. O primeiro passo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é direcionar o ensino para habilidades e competências, mas para que isso aconteça há um longo caminho. E esse caminho tem muito a ver com levar inovação, tecnologia, empreendedorismo e noção de cooperação para dentro da sala de aula.

Hoje, a escola muitas vezes ainda está distante de ser um ambiente de colaboração; o estudante por vezes está sozinho, o pai tem que contratar professor particular para esclarecer dúvidas adicionais. O professor também está em uma jornada solitária, dando aulas em várias escolas e sem tempo de estabelecer vínculos; o coordenador vive uma rotina sobrecarregada e de cobranças. Ou seja, cada um está imerso no próprio cotidiano, sendo que a escola deveria ser por essência um lugar de colaboração e de corresponsabilidade em prol de um objetivo maior – o desenvolvimento das pessoas. Um lugar de encontro para alunos, pais, professores e coordenadores; todos unidos em uma comunidade escolar de fato.

Óbvio que esse desafio de criar uma “nova edição crítica da escola” passa por toda a comunidade escolar. Mas, acredito que passa necessariamente pela coragem das famílias de exigir a transformação da escola; passa por não ter medo da mudança e de lançar um olhar crítico para esse modelo escolar que tem origem no século XII. E não se trata de jogar tudo fora, como se nada fosse bom ou passível de edição. Estou falando de, como nas novas edições de Monteiro Lobato, reconhecer a genialidade de conteúdos e transformar o que não dialoga com o mundo atual. Essa é uma decisão urgente, pessoal e intransferível. As famílias também precisam assumir o protagonismo na transformação da escola.

Voltando ao tema de literatura e questões raciais, o Café Literário da Bienal do Livro contará, nesse sábado (7 de setembro), às 11 horas, com a mesa Machado de Assis e a Literatura Negra. O encontro terá a participação da educadora Conceição Evaristo, mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Leitura Comparada pela UFF; o escritor e defensor público do Distrito Federal José Almeida Júnior, autor de “O Homem que Odiava Machado de Assis; e Eduardo Assis de Andrade, doutor em Letras – Teoria da Literatura e Literatura Comparada – pela USP. Os especialistas discutirão o resgate da negritude do escritor e a importância dessa questão em sua produção literária. A Bienal Internacional do Livro acontece até domingo, 8 de setembro, no RioCentro.

| Claudio Sassaki é mestre em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie, empresa referência em educação com apoio de inovação no Brasil e no mundo.

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Sol: vilão ou mocinho?

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Pesquisa revela que a falta de exposição moderada ao sol pode trazer mais prejuízos que benefícios para a saúde

Em sua recente viagem para o Brasil, a popstar Madonna não escondeu o descontentamento com o sol da cidade maravilhosa. Incomodada com o astro rei, a rainha do pop usou de todos os artifícios para poder se proteger dos raios solares com a finalidade de preservar a saúde de sua pele.

Será que o sol é de fato um vilão ou também traz benefícios para a saúde? Segundo pesquisa publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, ficar menos exposto ao sol pode trazer mais prejuízos que benefícios para a saúde. A Dra. Camila Mandes, biomédica esteta, esclarece. “ Passar muito tempo sob a luz solar pode ser prejudicial, já que os raios UVA e UVB se transformam em inimigos reais quando a exposição é feita sem cuidado e responsabilidade. Por outro lado, é essencial lembrar que o sol desempenha um papel crucial em nossa vida, oferecendo múltiplos benefícios para a saúde física e mental”, explica.

Além de proporcionar momentos de relaxamento e lazer, a exposição solar é saudável e necessária, inclusive para recém-nascidos e bebês. Abaixo, dra. Mendes traz dicas para se beneficiar do sol, sem comprometer a saúde.

Vitamina D: o elixir da saúde óssea e imunológica

Um dos principais benefícios da exposição solar é a síntese de vitamina D pela pele. Essa vitamina desempenha um papel fundamental na saúde óssea, fortalecendo os ossos e prevenindo condições como osteoporose. Além disso, a vitamina D é essencial para o funcionamento adequado do sistema imunológico, ajudando o corpo a combater infecções.

Bem-estar e saúde mental

A exposição à luz solar estimula a produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de felicidade e bem-estar. Assim, dedicar um tempo ao ar livre sob o sol pode ser uma excelente forma de melhorar o humor e diminuir os níveis de estresse e ansiedade.

Melhoria da qualidade do sono

Durante o dia, a incidência do sol possui uma relevância significativa na regulação do ciclo circadiano, contribuindo assim para aprimorar a qualidade do sono. A luz solar natural desempenha um papel importante na sincronização do nosso ritmo biológico, assegurando um descanso noturno mais profundo e restaurador.

Benefícios para a pele

Apesar da importância de proteger a pele contra os danos causados pelos raios ultravioleta, a exposição moderada ao sol pode trazer benefícios à saúde da pele. A luz solar pode contribuir para diminuir inflamações e melhorar algumas condições cutâneas, como acne e psoríase. Adicionalmente, a síntese de vitamina D pela pele pode fortalecer a sua barreira de proteção e diminuir o risco de doenças.

Importância da moderação e proteção

É importante ressaltar que a exposição ao sol deve ser realizada com cuidado e proteção adequada. Evite os momentos de maior intensidade da radiação ultravioleta, que ocorrem entre 10h e 16h, e não deixe de aplicar um bom protetor solar para evitar queimaduras e lesões na pele.

Hidrate-se

Tomar água é vital para a saúde. Após um banho de sol, é recomendado tomar de 1 a 2 copos de água para repor os líquidos e sais perdidos com o suor, por exemplo.

Portanto, aproveite os benefícios do sol com responsabilidade, incorporando momentos ao ar livre em sua rotina diária. “O sol está disponível lá fora, pronto para contribuir com um adicional de bem-estar e alegria. Um intervalo curto de 15 a 20 minutos é o bastante para trazer benefícios à saúde”, afirmou a dra. Mendes.

Para conhecer o trabalho da Dra Camila Mendes e seus procedimentos, acesse: https://www.instagram.com/dracamilamendes_/

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Nova plataforma de conteúdo adulto chega ao mercado oferecendo grandes oportunidades de monetização e valorização de carreira para modelos

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O PepperPlay já está disponível para cadastro de criadoras de conteúdo

O PepperPlay (www.pepperplay.com.br) chega ao mercado como uma nova forma de monetização e reconhecimento para as modelos de conteúdo 18+! Desenvolvida pela Pepper Produções, o site tem como foco valorizar as criadoras de conteúdo deste mercado com o compromisso de melhoras a falta de apoio e valorização das profissionais deste nicho. “Nossa plataforma se destaca por oferecer uma série de serviços e benefícios para promover e apoiar as modelos, como o contato direto com a nossa equipe para promoção ativa com parceiros estratégicos como a revista Sexy, assessoria de imprensa e consultoria individual ”, explica Vinícius Albuquerque, Head de Parcerias e Marketing do PepperPlay.

Com o slogan “Não é só monetizar, é também ser reconhecida”, o PepperPlay identifica e aborda uma lacuna significativa no mercado de conteúdo adulto. A nova plataforma se destaca por oferecer uma série de serviços e benefícios projetados para promover e apoiar suas usuárias, incluindo contato direto com a equipe da ferramenta, promoção ativas das criadoras destaque e uma estrutura de premiações especiais baseadas no faturamento acumulado que reconhece o esforço das modelos em atingir suas metas pessoais.

Entre as recompensas exclusivas oferecidas pelos parceiros da plataforma está a oportunidade de ser capa da Revista Sexy, publicação referência no mercado erótico com mais de 32 anos. As modelos também podem ganhar uma produção profissional de packs ensaio completo com fotos e vídeos com as melhores equipes de produção e fotografia do setor no Brasil. “Fizemos um extenso estudo de mercado e criamos o PepperPlay para que ele cresça de forma sustentável e eficiente, acompanhando o aumento de procura que já existe hoje por este tipo de conteúdo”, completa Vinícius.

Nesta primeira fase de lançamento, a plataforma está aberta para inscrições das criadoras de conteúdo.

Sobre a PepperPlay

A PepperPlay é uma plataforma de conteúdo +18 que se dedica a valorizar e promover criadoras de conteúdo adulto. Com uma abordagem focada no reconhecimento e apoio, estamos abordando um padrão na indústria, onde as criadoras são celebradas e recompensadas por seu trabalho com apoio e suporte de parceiros estratégicos da nossa marca.

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“Livre Expressão”, nova exposição da Ava Galleria Rio, traz imaginação sem limites e técnicas inovadoras, performances e oficinas, com curadoria de Edson Cardoso

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A Ava Galleria Rio apresenta a exposição “Livre Expressão”, com curadoria de Edson Cardoso, a partir de 11 de maio, no 2º andar da Fábrica Bhering, onde os artistas desafiam convenções, exploram técnicas inovadoras e moldam novas realidades através de sua imaginação sem limites, em meio a telas vibrantes, esculturas imponentes e instalações interativas, exercendo sua liberdade de expressão.

Cada obra transmite a coragem de se expressar sem amarras, de dar voz às emoções mais profundas e aos questionamentos mais provocativos, com a liberdade de criação se fazendo presente em cada pincelada, em cada linha traçada com precisão. Não há regras, apenas a busca incessante pela verdadeira essência da arte.

No momento criativo que marca a exposição, os visitantes são convidados a mergulhar em um mundo onde a imaginação é a única fronteira. Oficinas, performances ao vivo e debates estimulam a troca de ideias e inspiram novas formas de expressão. É um espaço de experimentação, onde cada indivíduo é encorajado a explorar sua própria criatividade e descobrir sua voz única no vasto panorama da arte.

Imagem ANJO – Lalin Witch // Imagem GATO – Hanne Hansel
“Livre Expressão” não é apenas uma exposição, é uma celebração da diversidade, da autenticidade e da coragem de ser quem somos. É um lembrete poderoso de que, em um mundo onde as vozes podem ser silenciadas, a arte continua sendo um farol de liberdade, iluminando o caminho rumo à verdade e à autenticidade.

Artistas

Alemão Art, Ana Amélia, Antonia Celia, Carol Reis, Claudia Sperb, Eduardo Valdetaro, Georgiana Vidal, Giose, Guilherme Quintanilha, Hanne Hansel, Helenita Teixeira, Lalin Witch, Laura Figueiredo-Brandt, Lourdes Maria, Luiza Alves, Mario Schuster, Marilene Fonseca, Maurício Piffer, Monica Doin, Mirta, Nelo, Roberta Barbosa, Silvio Ferraz, Solivels, Tigout, Yana Purger e a alemã Petra Kollmannsberger.

Sobre a Ava Galleria

Fundada em 2005, a AVA Galleria é uma das mais conceituadas galerias de arte contemporânea, que funcionou em Helsinki por 18 anos e que, agora, está localizada na Cidade de Varkaus. A AVA Galleria organiza exposições em importantes Espaços Culturais e Galerias das principais capitais, como: Osaka, Tóquio, Berlim, Londres, Lisboa, Helsinki, Nova Iorque, Paris e São Paulo. Também organiza a BELA Bienal (Bienal Europeia e Latina Americana de Arte Contemporânea), em Helsinki e no Rio de Janeiro. Este ano comemorou os dez anos do Ava Art Festival, que passou pelo Rio de Janeiro, Varkaus (Finlândia) e Osaka (Japão).

Serviço

Exposição: “Livre Expressão”

Artistas: coletiva

Curador: Edson Cardoso

Abertura: 11 de maio de 2024 às 15h

Visitação: de 11 de maio a 02 de junho

Local: Ava Galleria Rio

Rua Orestes, 28 – Santo Cristo, RJ

Assessoria de Imprensa: Paula Ramagem

Produção Glauco Cibela/Edson Cardoso

Realização: Ava Galleria / Arte Vida Arte/ PR Comunicação

Apoio Moreno Advocacia

Evento gratuito

Censura livre.

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