*Por Roberta Cassará Scalzaretto
Como especialista em formação de professores para a primeira e segunda infância e com foco na educação especial, aprendi que os métodos de ensino mais eficazes não buscam moldar as crianças de maneira uniforme, mas respeitar o desenvolvimento biológico natural, o processo de aprendizagem individual e a singularidade de cada uma delas.
A abordagem de Pikler, que valoriza o brincar livre e a autonomia, é um exemplo poderoso de como podemos oferecer um ambiente onde elas realmente se desenvolvem, expressam suas potencialidades e aprendem com confiança.
O brincar livre, por exemplo, é uma linguagem fundamental da infância. Ao ter liberdade para brincar e explorar, ela não está apenas se divertindo, está desenvolvendo habilidades motoras, cognitivas e sociais de forma integrada. Em um ambiente escolar, onde frequentemente há prazos e metas rígidas, arriscamos subestimar a importância desses momentos. Em contraste, a abordagem Pikler ensina que, ao permitir que cada uma explore suas potencialidades corporais e imaginativas e, desenvolvendo suas habilidades motoras por si só, há um fortalecimento de sua autoconfiança, o desenvolvimento da autonomia e, principalmente, o prazer em aprender e atuar no meio que o cerca.
O valor dessa abordagem é ainda mais evidente na formação de professores. Observando o desenvolvimento individual e assumindo que há um ritmo biológico natural – como ela aprende a se equilibrar, a explorar o espaço ao seu redor e a solucionar problemas no brincar –, os educadores são levados a redefinir o que significa ensinar. A prática nos mostra que o respeito ao processo de aprendizagem individual é uma ferramenta essencial, promovendo não apenas o desenvolvimento motor e cognitivo, mas também habilidades emocionais como a paciência, resiliência e autoestima, muito importantes na educação especial.
Esse respeito à individualidade reforça a importância de cada etapa do desenvolvimento. Não se trata de buscar resultados imediatos ou compará-los entre elas, mas de criar experiências de aprendizado significativas e duradouras, adequadas a cada um, individualmente, ou seja, o desafio e a proposta de ensino, assim como as atividades, devem estar adequados àquela criança em específico, não podendo estar nem além, nem aquém do que esta criança tem potencialidade para solucionar.
Quando priorizamos o brincar livre e o desenvolvimento espontâneo, criamos um ambiente em que o aprendizado acontece de forma intuitiva e prazerosa, resultando em crianças que confiam em suas habilidades e se expressam com autenticidade.
A abordagem Pikler nos mostra que educar na Primeira Infância, é muito mais do que transmitir conhecimentos, é permitir que cada uma, juntamente com um adulto competente que lhe dá segurança emocional e física, descubra, construa e confie em seu próprio potencial.
*Roberta Cassará Scalzaretto é especialista na formação de professores voltada para a primeira infância. Com formação em Magistério, Pedagogia e Psicopedagogia, possui vasta experiência em atender tanto crianças com dificuldades de aprendizagem quanto aquelas com altas habilidades intelectuais. Profundamente apaixonada pela educação, foi a idealizadora do projeto “Brinquedoteca: um olhar para o brincar”, no colégio Porto Seguro Panamby. Sua carreira foi dedicada a capacitar educadores para atuarem na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, preparando-os para lidar com a diversidade de perfis e necessidades de aprendizado.